segunda-feira, 25 de novembro de 2013

PRIVATIZAÇÕES: DESMONTAR MENTIRAS



Mais uma vez aqui deixamos uma opinião de quem nada tem de radical, como todos sabemos – Nicolau Santos – para provar que não é necessário ser-se de esquerda para se criticar o autêntico fanatismo ideológico, e não só, que patrocina a onda de privatizações que o Governo Passos/Portas está a levar a cabo. Não há qualquer lógica ou justificação possíveis e vale tudo, nomeadamente as mais torpes mentiras. Os exemplos apontados são por demais conhecidos para se perceber que constituem a mais pura realidade. Ao lermos esta “reflexão” do jornalista do Expresso Economia, ficamos com a noção clara do que verdadeiramente se está a passar – uma catástrofe para o país e para os seus cidadãos em particular.
Uma das imposições do processo de ajustamento é a alienação por parte do Estado, da venda de empresas públicas ou das participações que detém. É curioso que no turbilhão da austeridade que nos caiu em cima, o processo de privatizações em curso praticamente não seja discutido e seja mesmo aceite, se não com naturalidade, pelo menos com algum fatalismo.
Ora, talvez seja altura de abrir também essa discussão e tentar contrariar algumas inverdades que o discurso oficial propaga. E a primeira dessas inverdades é que tudo o que é público é mau e será sempre muito melhor gerido pelos privados. A prova está em que o que o governo tem feito até agora é vender sobretudo empresas públicas que dão lucro. O caso mais recente é o dos Correios, que deverá registar um lucro de €60 milhões este ano e presentear os accionistas com uma rentabilidade superior à dos correios britânicos e próxima da dos correios belgas. Mas a ANA, a EDP ou a REN não eram propriamente negócios deficitários…
A segunda inverdade é que a gestão privada é sempre melhor que a pública, a não ser que essa gestão pública seja exercida por outro Estado que não o português. É o caso da EDP e da REN, cujos accionistas maioritários (China Three Gorges e State Grid) são empresas chinesas totalmente públicas, em cujos conselhos administrativos têm lugar os representantes do Partido Comunista Chinês. Logo, não se trata de privatizações, mas de nacionalizações por parte de outro país.
A terceira inverdade é que as privatizações introduzem mais concorrência e, por consequência, levam à descida dos preços para os clientes. Pois bem, a mudança de dono na REN e na EDP não levou à descida de preços da electricidade para os consumidores, mas sim – segundo agora nos é dito – a um crescimento menor do que se não tivesse havido privatização. É interessante como o discurso político usa uma justificação para uma decisão e outra depois da decisão estar concretizada e os resultados não serem os que tinham sido usados como argumento para proceder à privatização. No caso da ANA, comprada pelos franceses da Vinci, o que se esperava era uma descida das taxas aeroportuárias. O que aconteceu? A subida dessas taxas com o argumento de que tal estava previsto no acordo de venda da empresa.
A quarta inverdade tem a ver com o argumento de que não é importante quem detém o capital da empresa. É a maior de todas as falácias. Como é evidente, importa e muito. A compra da participação da CGD na Cimpor pela Camargo Corrêa levou, para já, a que o centro de decisão da empresa de cimentos passasse de imediato para o exterior. E veremos o impacto que esta mudança de accionista terá no futuro relativamente à contratação de engenheiros técnicos portugueses. No caso da PT, por exemplo, o facto do Estado ter sido obrigado a vender a golden share que detinha na operadora telefónica levou a que esta, para se colocar ao abrigo de uma OPA hostil, avançasse com uma fusão com a brasileira Oi. Consequência: a sede da nova empresa será no Brasil e já é completamente claro que será o mercado brasileiro a concentrar todas as atenções do seu conselho de administração nps próximos anos, porque é aí que estará o grande potencial de crescimento. Para já, e durante vários anos, o mercado português deixou de ser uma prioridade para a PT em termos de investimento, em termos de inovação e em termos de emprego.
Falta agora que nos digam que não faz sentido que o Estado detenha um banco público porque esse é um negócio que os privados fazem muito melhor. Como se tem visto aliás.  

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